Cenário (muito) indesejado
Certamente havia um semáforo
Tu avançaste, e eu não.
Lembro-me que os teus dedos ficaram marcados na minha mão
Fugindo dos meus e da minha vontade de te reter.
Procurei-te quando o sinal mudou
Esperando que no outro lado da rua a tua impaciência me aguardasse,
E dissesses, como sempre, quando me distraio,
- Mais uma vez ficaste para trás.
Mas de ti não vi nenhum sinal.
Nem nas calçadas os teus pés,
Nem nas ruas o teu vulto,
Nem a tua roupa sobressaía da multidão.
Desapareceste como se te tivesses escondido
E pretendesses reaparecer mais tarde com uma desculpa qualquer que eu aceitaria
E que justificaria as horas de busca e solidão.
Mas as horas foram passando e tu não aparecias,
E dos meus dedos desapareceram as marcas dos teus.
Procurei-te no sítio habitual onde esperavam por nós os amigos,
Onde esperavam por nós mesa e cadeiras,
E vazias ficaram as cadeirasE desapontados os amigos
E desesperado eu.
Corri pela cidade murmurando o teu nome,
Procurando a nossa rua
Procurando a nossa casa
Procurando a nossa porta
Procurando a tua mão a apertar-me os dedos
E a marcá-los de vontade de ficar.
Mas só o vazio me esperava
.E nunca a casa me pareceu tão grande
Porque só minha,
Porque não nossa…
Porque havia um semáforo
Tu avançaste
E eu não.
(Adaptado-este texto apenas aqui por ter gostado dele, e não por sentir algo parecido)
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