segunda-feira, janeiro 28, 2008

Visão da Porta


















Ela era linda e com uma postura digna e prudente. Ele era básico e desajeitado, ainda que a tentar disfarçar. Entraram juntos: o João e Joana, e não eram um casal. Apenas dois amigos.
Só não eram mais que isso porque a ingenuidade dele não lhe permitia ver o quanto o coração dela o queria e desejava. Ele mostrava o quanto gostava dela, só pelo jeito alegre e feliz de sorrir, como se fosse o melhor momento que estava a ter hoje (ou a ter desde sempre). Ela era discreta. Mas queria-o mais que tudo. Parecia engolir as palavras simples que ele dizia. Uma por uma. Sem tirar os olhos dos lábios dele como se os estivesse a devorar. Imaginou-se beijando-o num abraço fogoso inumeras vezes. Imaginou-se deitada no peito dele. Não gostava do sítio, muito menos da música. Só cá está pelo João. Para ele, qualquer sítio serve. É de nível mais baixo que ela. Mas isso não importa. Esta mulher procura a simplicidade de um miúdo, sem interesses secundários, que a faça sorrir e sentir bem. Humilde. Sem complexidade em o compreender. Honesto. Que a ame por amar.
Ela só não expõe o que quer porque não é apropriado, até porque sabe bem que o João é doidinho por ela. Se ela mostrar o mesmo, perde a piada. Tudo tem que lhe ser natural.
Para ele, tudo tem que ser como for, desde que seja com ela.
A maneira de ser do João faz com que ele goste de mostrar a quem o vê, que está feliz ao lado dela. Para a Joana, só há aqui o João. Sem música. Sem olhares. Sem ninguém. E sorri do que ele diz, até quando não tem piada, só para lhe agradar.
Se ele não tivesse medo de a beijar, ela não tinha medo de retribuir. E repetir. Isso é demasiado óbvio. Mas o desejo dela é demasiado subtil e sofisticado para ser concretizado só pelo seu capricho. Ele tem que descobri-lo, mas não vai ser tão cedo como a Joana espera. Mas ela não se importa. Eles só se querem ter, mesmo que não seja nos braços um do outro. Muito menos nos lábios. Mesmo que nunca sejam um casal, vão sempre gostar bastante um do outro. Serão sempre cumplices sem o saber.
Talvez os veja de novo - se o João tiver coragem para a convidar para sair de novo um dia destes.


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